domingo, 5 de junho de 2011

But I still haven't found what I'm looking for...



Não me lembro quando foi a ultima vez que choveu por aqui, faz muito, muito tempo... Ano passado talvez. Agora tem raio, trovão, barulho de agua. Parece que sempre deveria ser assim, de vez em quando. O cheiro da chuva, o habito da chuva. Lembro de quando era pequena e as cores e os cheiros sentidos da janela da casa onde a gente morava. Eu amava tanto e filosofava tanto desde sempre que me lembro de cada detalhe como se fosse um sonho, como se fosse matéria-prima de todos os sonhos que terei a vida inteira e por outras vidas também. Me lembro muito, muito, de todas as cores do céu.
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Ele sabe que eu estou pensativa e não se importa, continua olhando a televisão. Ele me pergunta o que estou pensando olhando pra televisão. Ou seja, ele não se importa. Normal.
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Depois de um domingo em que eu não sai pra trabalhar, mas que trabalhei para oferecer um bom almoço para os nossos amigos, me estico na cama. Trabalho amanhã cedo novamente. Estou cansada. Os trovões estão fazendo bastante barulho, muito louco isso, esses trovões nessa cidade cinza que finge que é bonita.
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Tenho uma amiga que acabou de dar a luz, dia 28. Dar a luz é uma expressão muito bonita. Ela botou mais um ser humano no mundo. Fico pensando como seria se não tivesse perdido o bebê.
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Minha barriga iria crescendo aos poucos, e com a barriga os sonhos, os planos, as mudanças na casa. Reorganização dos moveis, talvez a gente poderia colocar a cama na sala, fazer do nosso quarto um cantinho especial pro baby, se apertar e reoganizar. Eu talvez pudesse ter usado o meu tempo para estudar um instrumento, aprender a falar uma outra lingua, pensar no que eu faria depois do nascimento dele. Romain estaria feliz, ele me acompanharia em tudo, faria o possivel para me ajudar até com a casa. Eu sairia com as minhas amigas para comprar o enxoval. Todo mundo me enviaria mensagens, boas energias. Aos poucos eu me prepararia para o dia D. Seria um menino, eu acho que seria um menino. Ele iria mudar a minha vida. Eu iria pra maternidade, a minha mãe poderia ter vindo do Brasil pra ficar comigo. Seria parto normal, sem muitas dificuldades. Escutaria seu choro pela primeira, vez, tocaria suas maozinhas, seu olhos lindos iguais do pai, cheio de saude. Ele mamaria feito tivesse com toda a fome de quem acabava de chegar no mundo... Tirariamos muitas fotos. Seria um momento incrivel. Lindo, perfeito. A gente viria pra casa, eu receberia muitas flores. Todo mundo ia ficar feliz, nos ficariamos muito felizes. A gente podia passar uns dias em Bonnières, pra ficarmos quietinhos. E aos poucos a gente iria descobrindo como seria a vida, a nossa vida, a vida de verdade, o futuro.
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Amanhã vou acordar cedo, fazer meus abdominais, depois vou pra academia, tudo rapido, tudo correndo. Depois eu vou preparar minhas coisas pra trabalhar na Galeria Lafayette. Espero que esteja vivendo o passado. Não quero nem pensar em ter filhos agora. Vai vir quando tiver que vir.
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Ele continua me perguntando o que eu estou pensando, mas olhando pra televisão.
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A musica de hoje é "I still haven't found what I'm looking for..."
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"I've climbed the highest mountains
I've run through the fields
Only to be with you
I've run I have crawled
I've scaled
These city walls
Only to be with you
*
But I still haven't found
What I'm looking for
*
I've kissed honey lips
Felt the healing in her fingertips
It burned like fire
This burning desire
I've spoken with the tongue of angels
I've held the hand of the devil
It was warm in the night
I was cold as a stone
*
But I still haven't found
What I'm looking for
*
I believe in the Kingdom Come
Then all the colors will
Bleed into one
But yes I'm still running
You broke the bonds and you loosed the chains
You carried the cross
And my shame
You know I believe it
*
But I still haven't found
What I'm looking for"
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sexta-feira, 3 de junho de 2011

You're so beautiful but oh so boring...


Vou fazer 30 anos. Hoje sou vendedora da Galeria Lafayette e não, não é uma piada... Não que eu me sinta diminuida por isso, não posso dizer que estou infeliz nesse ponto. Como dizia Pessoa "Não sou nada, nunca serei nada...". Me sinto parte de um todo. Me sinto util sim, sinto que faço muito bem o meu trabalho e que posso melhorar ainda mais. Ganho uma miséria para o mercado. Mas trabalho para uma super marca, encho a boca para falar. Quando eu conto para os amigos do meu marido que eu sou vendedora eles me olham com cara de pena. Eu deveria fazer o mesmo quando me dizem que são musicos ou fotografos, artistas. Bato ponto, tenho salario, vale-refeição, seguro-saude, plano de previdência. Essas coisas inuteis que todo mundo precisa. Me sinto, finalmente, fazendo parte da massa, ou seja: não sou nada. Não é exatamente o que eu previa quando comecei a escrever esse blog, exatamente quando decidi me separar do meu ex marido. Quando postei uma foto de flores do campo que hoje sei onde brotam e como se chamam. Eu não sabia que o principe ia virar um chato que vive dando no meu saco. E que quem sabe a vida é não sonhar... É, eu so peço a Deus um pouco de malandragem.

Escolhi essa vida. Escolhi esse cara cheio de qualidades e defeitos como marido, escolhi Paris-city para morar. Tive que me acostumar com muitas coisas para entrar no mundo adulto, muitas coisas. Acho que de certa forma a vida é isso: ver um negocio que poderia sim, ser seu sonho, vivê-lo como sonho, descobrir que nao era isso mas se acostumar, fingir que era. Tentar ainda ter o mesmo brilho nos olhos quando contar a mesma historia duzentas vezes. Ainda nao me cansei dos velhos sonhos.

Como Raquel, ainda quero ser menino, ser adulta e ser escritora.

Eu tento ve um pouco o futuro, insisto em vasculhar o meu horoscopo tentando ler as entrelinhas. Nao, nao é possivel que a minha vida seja isso, casada com um cara que nao me entende (nao foi sempre assim?) e vendedora da Lafayette. Nao, nao é esse o meu futuro, nao é isso futuo nao! Futuro é um negocio que a gente acha que tem cara de final. Meu casamento com Romain foi futuro. Lindo. Mas hoje nao, hoje é passado. Hoje eu tenho que mentir pra ele, dizer que sai com as minhas amigas porque ele ta viajando. Ele é um marido que quer que eu saia... Eu quero ficar em casa com os meus pensamentos, o meu silêncio, as minhas musicas (que euzinha escolhi pra tocar). Filosofar, tomar garrafa de vinho velho, tentar responder os meus emais e facebook... Amanha é sabado e eu vou trabalhar. Meu marido foi viajar. Mais uma vez eu me casei com um cara que nao a nem ai pra mim e pra quem eu preciso mentir.

Ei nao acho que existam homens diferentes disso.

Romain é chato, chato demais. Ele é infantil e desinteressante. Semana passada disse a ele que nao estou mais apaixonada. Ele quase teve um troço, fingiu nao acreditar. Joguei a culpa em cima de mim, de certa forma, e ele continuou como se nada tivesse acontecido. Sera preciso ficar so pra se viver? So pra se viver? Eu gosto dele. Acho ele bonito. Mas também achava Emerson bonito, do jeito dele. Romain é um cara bom, de alma boa, que nao faz nada por maldade, assim eu o perdoo sempre. Mas eu gostaria de nao ter que ligar pra ele amanha. Hoje eu me sinto suficientemente livre para viver uma vida paralela a ele. EU sempre achei que ia conseguir encontrar um amor ideal, ao ponto de conseguir viver a vida junto. Mas parece que isso nao existe: tem que viver paralelo. Eu gosto dele, mas tenho que guardar uma certa distância. Acho que isso é uma hipocrisia ridicula.

Pensei em arrumar um amante. Mas nao tenho coragem. Acho que isso nao ia ajudar nada, so ia prejudicar as coisas. Eu nao sou hipocrita, nao ia conseguir dormir com ele fingindo. Preciso focar na minha carreira, seja ela qual for, aprender a ser menos espontânea e romântica (qui nem qui os adultos) e ter filhos. Isso sim deve resolver muitas coisas. A gente cria uma obrigaçao enorme de aceitar mais ainda as paradas. Eu acho que ele é um largado, um fracassado, um adolescente perdido. O fato de eu nao reconhecer nele um homem piora muito as coisas. Ele me cobra e eu nem tenho vontade de responder. Nao sei como vou conseguir resolver essa situaçao, porque eu nem tenho medo dele como tinha do outro. Tenho vontade de rir quando ele me cobra. Estou perdendo cada ver mais o respeito, esse respeito do cara ser maior que eu. Tô cheia de voz, sabe... Respondendo os amigos dele... Estou perdendo o medo de ser rejeitada. Isso é foda... Parece que a minha personalidade esta crescendo. Nao sei onde isso vai dar.

Nao sei se vou fazer planos pros meus 30 anos. Nao sei se os planos vao me ajudar em alguma coisa. Eu quero encontrar onde focar e focar. Pedacinho por pedacinho. SInto que vou começar mesmo a viver quando tiver uns 70 anos. E eu lembrar de tudo isso como uma grande piada. Acho que vou ser a vovo mais feliz do mundo. Tranquila, com os maridos todos mortos, escrevendo, viajando, fazendo bolo, indo encher a paciência das vendedoras das lojas. Livre e intelegente, filosofica. Isso, meu desejo mesmo é ser uma vovo filosofa. Dentro de uma sala cheia de livros meio bagunçados mas que eu sei bem onde estão. Desconectada com o passado. Tranquila.

Eu sempre espero simplesmente que o tempo passe. O tempo sempre acaba resolvendo tudo.

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A musica de hoje é "So beautiful", Simply Red. Tão lindo, mas tão chato...

"I was listening to this conversation
Noticing my daydream stimulated me more
I was crumbling with anticipation
You'd better send me home before I tumble down to the floor

You're so beautiful but oh so boring
I'm wondering what am I doing here
So beautiful but oh so boring, I'm wondering
If anyone out there really cares
About the curlers in your hair
My little golden baby, where have all your birds flown now?

Something's glistening in my imagination
Motorvatin' something close to breaking the law
Wait a mo' before you take me down to the station
I've never known a one who'd make me suicidal before

SYou're so beautiful but oh so boring
I'm wondering what am I doing here"