sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Inveja do pênis


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Não sei porque você sempre me liga pra dizer que vai chegar. Por que simplesmente não chega?
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Começo a perceber que os meus grandes motivos de insatisfação pessoal vêm da famosa idéia do "complexo de inveja do pênis", seja la o que isso for. Vivo cuspindo para mim e para o mundo que mesmo que eu não seja realizada profissionalmente eu tirei a sorte grande de encontrar "o amor da minha vida". Não sei o que encontrei e nem sei se estava procurando. Quando eu era pequena, a minha primeira vocação - por assim dizer - era pra ser cantora ou instrumentista. Fazer musica, como meu pai. Não sei se não tinha talento ou se não insisti. Fiz aulas, desisti, tentei novamente, desisti, por diversos motivos plausiveis. Dai entrou o primeiro marido na minha vida, com quem fiquei 7 anos. Não consegui aceita-lo porque tinha inveja dele. Começamos a competir, queria ser melhor do que ele e não consegui. Desisti, desisti, desisti de um montão de coisas. Não cheguei nem no inicio do caminho. Comecei a tentar imitar a minha mãe, começou a dar certo. Conseguimos trabalhar juntas e melhorar juntas. Dai eu conheci outro homem, casei novamente e resolvi ter inveja dele. Agora me vejo novamente perdida porque quero imita-lo, competir e tentar ser melhor. Não sei se quero por causa dele ou porque realmente poderia ter talento para o assunto. Como para os outros dominios em que eu imitava. E de tanta raiva de imitar começo a não conseguir mais rezar, por ter raiva de invejar o pênis de Deus. Não sei quem eu sou, pra onde e porque eu vou e passo a vida a tentar ser como os outros porque não tenho coragem de ir a fundo de mim mesma, tentar descobrir o que é que eu, euzinha poderia querer. Me sinto sem independência, frustrada, apatica. Volto a sonhar com fuga, fuga, fuga. Animais ferozes, maremotos, monstros. Fazia tempos que não sonhava que estava fugindo. Fazia tempos que não me via em uma situação que quisesse fugir. Não sei como me trabalhar para que eu seja eu mesma e pare de fugir so porque é dificil. Alterno entre a subserviência e a rejeição. Ou eu quero dar tudo, ou se não aceitar, me esquece. Gostaria de não ser tão radical. Gostaria de não mudar tanto de idéia. Gostaria de encontrar as respostas, mas eu nem sei quais são as boas perguntas. Gostaria de poder escrever coisas boas, positivas, exemplos. Aos 30 anos eu não sou um exemplo de nada. Sou alguém que "até tinha talentos", que "poderia ter conseguido de tentasse". Se tentasse o quê? No fundo sou uma covarde de marca maior. Vivo criando desculpas para abandonar de uma vez por todas os pontos em que estava. So gostaria de ser velha, de ja ter vivido, de ja ter passado, de saber que fiz a escolha certa.
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Eu sei muito bem ter 3 relações sexuais por dia, mas sei também, muito bem, não ter nenhuma.
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Se você me quiser, vai ter que me conquistar.
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Estou cansada.
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Fico aqui cozinhando essa minha raiva de você. Não sei onde isso vai dar. Hoje eu não tenho nenhum amor no coração, estou seca. Me afastando dos amigos, da familia, de mim. Não sei quem eu sou e nem pra que sirvo. Estou perdida, bagaço. Não chego a ter pena de mim porque nem pena eu mereço. Vão acabar me botando pra fora. Quero ir embora desse pais. Preciso focar agora, focar, focar, focar. Preciso marcar minhas cirurgias e esquecer essa idéia idiota de ser mãe. Arrancar os meus dentes, cortar os meus pés, triturar meu coração, me mutilar. Preciso de automutilação, poda. Preciso me podar pra ver se vou brotar na primavera.
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Minha criatividade esta bloqueada, você bloqueia a minha criatividade. Eu era alguém muito mais interessante antes de você chegar, hoje eu sou o bagaço da laranja.
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Preciso aceitar o silêncio e tentar criar, mas para dentro. Preciso voltar a fotografar. Preciso aprender a nadar. Preciso respirar. Preciso tratar da minha bronquite. Preciso parar de fumar de uma vez por todas. Preciso aprender a pensar com a minha cabeça. Preciso parar de me preocupar tanto, tanto com os outros. Preciso organizar a minha nova série de ginastica e ficar forte, ficar forte de dentro e de fora. Preciso ir embora dessa loja, preciso ir embora dessa gente, preciso sair desse pais e dessa cultura de merda. Preciso voltar a ser o que eu fui (o que eu fui durante alguns meses). Talvez eu precise fazer o caminho de santiago, talvez eu precise encontrar uma igreja. Preciso de liberdade. Preciso subir no quinto andar para tirar uma foto com Papai-Noel. Preciso encontrar um jeito de fugir dessa festa de Natal com a familia dele, que tenho certeza de que vai me deprimir. Preciso ligar pra todos os meus amigos queridos. Preciso parar de precisar da aprovaçao de meus maridos, pais, deuses. Preciso parar de querer ser aceita. Preciso amar as pessoas como se não houvesse amanha. Porque se você parar pra pensar na verdade não ha amanha. Preciso saber se o mundo vai acabar ou se ja acabou e a gente nao percebeu.
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A musica de hoje é "Teatro dos Vampiros".
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"Sempre precisei de um pouco de atenção
Acho que não sei quem sou
Só sei do que não gosto.
E destes dias tão estranhos
Fica a poeira se escondendo pelos cantos
Esse é o nosso mundo:
O que é demais nunca é o bastante
E a primeira vez é sempre a última chance.
Ninguém vê onde chegamos:
Os assassinos estão livres, nós não estamos.
Vamos sair - mas não temos mais dinheiro
Os meus amigos todos estão procurando emprego
Voltamos a viver como há dez anos atrás
E a cada hora que passa
Envelhecemos dez semanas.
Vamos lá, tudo bem - eu só quero me divertir.
Esquecer, dessa noite ter um lugar legal pra ir...
Já entregamos o alvo e a artilharia
Comparamos nossas vidas
E esperamos que um dia
Nossas vidas possam se encontrar.
Quando me vi tendo de viver comigo apenas
E com o mundo
Você me veio como um sonho bom
E me assustei
Não sou perfeito
Eu não esqueço
A riqueza que nós temos
Ninguém consegue perceber
E de pensar nisso tudo, eu, homem feito
Tive medo e não consegui dormir
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Comparamos nossas vidas
E mesmo assim, não tenho pena de ninguém."

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