Fim de uma Era.
Dia 30 de junho de 2008, um dia para entrar na História.
Foram gerações e gerações.
Minha bisavó já morava lá.
Meu pai morou lá desde os 17 anos.
Meus pais se casaram e foram morar lá.
Nasci naquela rua.
Fui morar lá.
Casei e quis ir para lá.
Vivi lá por 6 anos.
Lá nasci, lá cresci, lá permaneci.
Aquele céu...
Aquela luz...
Aquele clima...
Tudo igual, tudo sempre igual, muito igual.
Meus pais foram infelizes, eu fui infeliz.
Agora parece que acabou.
Fui humilhada, fui violentada, fui machucada de todas as formas. Meu corpo e meu coração foram perfurados. Mas eu sobrevivi, parece que eu sobrevivi (eu acho).
Também não posso dizer que fui infeliz de todo, fui feliz. Fui feliz sim.
Tive uma infância divertida. Sonhei, fiz planos. Quis ter filhos, quis ter animais. Tinha até alguns dias em que eu amava e me sentia amada. Pela minha família, pelo meu marido.
Tudo bem, as coisas não funcionaram como eu gostaria. Mas talvez tivessem sido diferentes se eu mesma me esforçasse para uma permanência.
Mas não.
Tudo sempre foi muito provisório.
Eu queria, mas não muito.
Eu amava, mas não o suficiente.
Eu cuidava, mas não como deveria.
Não me esforcei para me impôr. Abandonei minha personalidade. Aos poucos fui abandonando a própria vontade de viver.
Minha casa tornou-se a materialização da minha alma.
Antiga, remendada, nunca suficiente. Os anos se passavam e o caos permanecia. Provisório virando permanente. A alma e a casa eram apenas promessas.
Cansei de lutar. Não estava lutando com as armas certas. Talvez não estivesse lutando com as armas de quem realmente quisesse vencer a guerra.
7 anos de casamento.
Faríamos 7 anos no dia 29 de julho. Minha vez de levar pra passear. minha vez de fazer surpresa. O dia mais importante do mundo, mais importante que o próprio aniversário, feriado internacional. Agora chega, agora acabou. Saí de casa faltando 1 mês para completar 7 anos. De propósito? Foi. Foi sim. Não poderia suportar mais um aniversário sem tentar o suicídio.
Como diria Fernando Pessoa: "Vivi, chorei, amei e até cri. E hoje não há homem no mundo que não inveje só por não ser eu."
Adquiri trumas. Contraí pânicos, medos, horrores. Preciso de tratamento.
Pode até ser o fim de uma Era física. Porém, um pedaço da minha alma continuou lá. Continuo me referindo àquele homem como "meu marido". Continuo me referindo àquele lugar como "minha casa". Ainda não me acostumei. Ainda nem entendi. Nunca conheci outro lugar que pudesse chamar de lar, nunca conheci outra realidade que não fosse aquela. Aquela era a minha realidade. Aquela É AINDA a minha realidade. Parece que vou acordar e estar lá. Parece que vou acordar e estar na minha cama, com ele ao meu lado, me chamando de "meu bem". Que pena. Que triste.
Mas eu ainda não decidi se o triste foi ter terminado ou se o triste foi ter começado.
Não sei se estou chegando ou se estou partindo. Mas agora eu tenho certeza de que estou em movimento.
"Todo começo é involuntário.
Deus é o agente.
O herói a si assiste, vário e inconsciente.
À espada em tuas mãos achada
Teu olhar desce.
"Que farei eu com esta espada?"
Erguste-a, e fez-se."
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