(estava escrevendo este post no dia 1 de fevereiro, hoje 3)
Voltando para o borralho.
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Sabe o que é, é que eu fiquei menstruada ontem. Daí tudo muda... O corpo muda, o humor muda, o mundo muda. Aquela neurose exacerbada, aquele romantismo desenfreado, aqueles superlativos absolutos descem todos juntos com a menstruação. Desincho por dentro e por fora.
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Tenho que tomar cuidado com essa minha terrível característica de "ou-tudo-ou-nada". Pra não pressionar ninguém, nem a mim nem a ele. Acho que não é tempo de falar "ou casa comigo ou tudo está acabado entre nósssss!" hahaha... calma, Gabi, calma... Coisas de TPM. Acabei de sair de um casamento de 7 anos, faz o quê, 6 meses? Eu e o Romain nos vimos o quê, 10 dias? Nos conhecemos a quase 2 meses? Romain nunca foi casado. Tem só 30 anos. E não tem esse desespero casadoiro. Calma, Gabi, take it easy.... Dá um tempo pro rapaz... Ele nunca disse que ia casar com você assim, assim de cara... Isso é coisa da sua cabeça! Take it easy...
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Tô mais calma em relação a isso. Estava pensando nessa minha ida à França com muita seriedade. Às vezes (?) dou uma pesada excessiva nas coisas. Quero viver tudo, muito, agora. Isso é ruim, deixa a perspectiva unilateral. A gente nem se conhece direito, tem que se experimentar. Vou procurar a faculdade, tentar conseguir um visto de estudante, o que acho um pouco difícil porque não falo lhufas de francês (e parece que lá as faculdades são pagas, o que complica tudo). Quero pensar em passar lá uns 2, 3 meses, pra ver se me acostumo. Tentar conseguir um trabalho que custei essa minha viagem... Não quero ficar nas costas dele. O fato de eu ganhar pouco e o pouco que eu ganho não ser nada lá é bem ruim. Mas eu acho que é um mau começo já ir pensando que ele vai ter que me bancar. Tá certo que eu não falo francês, mas sou bastante despachada, sei fazer uma porção de coisas... E topo até mesmo trabalhos informais de bico, sei lá, lavar louça, levar cachorro pra passear, cantar, dançar, sei lá... Qualquer coisa que pague minhas passagens de Bonnieres para Paris, minhas entradas nos museus e minha internet (e quem sabe, uns presentinhos pra família?).
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Não, eu não estou pensando que encontrei um príncipe encantado, por mais que ele preencha muitos dos requisitos da lista do super. Ele é um ser humano, uma pessoa falha como eu. Tenho uma experiência inicial e sei que casamento não é fácil. Homens e mulheres já falam línguas diferentes, quem dirá os que efetivamente falam línguas diferentes. A gente possivelmente terá problemas de comunicação, de compreensão, de adaptação. Problemas dele comigo, problemas meus com ele e vice-versa.
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Continuando hoje, 3 de fevereiro.
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Li num livrinho de "Iniciação à Astrologia" (ruim, coitado...), que os librianos são assim: fingem que está tudo bem para não incomodar o outro. Engolem sapo, evitam brigas a todo custo, simplesmente para não receber uma cara feia. Pra não ter que discutir. E então, num belo dia, com a maior diplomacia e frieza do mundo eles dizem: "está tudo acabado". E sem volta. Enquanto o outro pensa: "mas não estava tudo bem?", pro libriano a decisão foi tomada.
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Sou muito assim, tomo decisões radicais aos poucos (tipo o "caminho do guerreiro", lembra?). Custo a tomar decisão, mas quando tomo estou bem certa disso. Não quero evitar a todo custo as brigas com o Romain, como eu sempre fiz anteriormente. Eu sempre fui assim, terminei tudo com a maior diplomacia um belo dia, sem discutir. Eu quero discutir. Quero perguntar, contestar. Quero ser mais humana. Mais uma vez estou entrando num relacionamento com um libriano, não quero mais um relacionamento político, frio. Quero reclamar, mostrar que tenho ciúmes, dizer que também tenho direitos. Quero tanto ser feliz com ele... Cada dia mais quero muito isso. Temos conversado muito. Ele está com umas idéias escalafobéticas de chegar no Rio, comprar um carro e ir pra Foz do Iguaçu, Argentina e Patagônia (?) (neguinho sai do frio da Europa pra passar frio aqui, vai entender). Acho que pode ser uma viagem maravilhosa, mas mais uma vez quero tentar manter meus pés no chão. Estou recomeçando a minha vida e não tenho dinheiro para dividir uma viagem dessa. Não tenho dinheeiro pra comprar uma penca de banana na Europa. Lembro que quando me casei da primeira vez, com ridículos 19 aninhos, eu nem sonhava em ver uma conta. Trabalhava mas ele não me pedia pra ajudar na casa, o dinheiro era meu, pra fazer as minhas coisas. Depois começamos a trabalhar juntos, mas no início era assim. Eu demorei anooosss pra ver uma conta de qualquer coisa. Mas hoje é diferente, eu não tenho mais aquela inocência, sei que viver custa dinheiro. E não me sinto nada à vontade de não falar sobre isso. Sem dúvidas esse é o assunto que mais me amedronta nesse relacionamento. Eu mal sei se vou ter dinheiro pra pagar minhas contas no próximo mês, estou pensando em vender meu carro pra conseguir um empréstimo no banco e dar um gás na minha produção. O mundo sem marido é difícil... E isso eu já sabia. Não posso surtar e largar minha família aqui. Quero muito manter o pouco que conquistamos. Como é bom ter nossa casinha, nossa lojinha... Não posso ser egoísta e deixar isso ruir. Tenho que dar um jeeito de manter as duas coisas.
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Também não possso ser egoísta comigo mesma. Tenho que conseguir não ser egoísta com a família e não ser egoísta comigo. Ô dificuldade! Não quero que Deus me peça para escolher. Mesmo. Por favor, Deus, não me peça para escolher. Que o Romain compreenda a minha situação e me apóie no meu trabalho.
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Lembro do dilema quando ele estava aqui e eu fiquei olhando pra ele dizendo que ia para Parati. Em momento algum ele cogitou em ficar aqui comigo. Vai ser assim, ele indo e eu indo atrás dele. Não posso imaginar a minha vida sem seguir esse homem. Ele tentando me puxar dessa inércia, dessa minha tendência à rotina. Sabe aqueles lindos cabelos ruivos? Não é de viking não, é de cigano. Romain não pára quieto! Vai ser uma revolução tirar essa heremita de São-Cri-Cri que morou avidatodaavidatoda no mesmo lugar, que nasceu no mesmo lugar, que estudou no mesmo lugar, que queria criar os filhos e morrer no mesmo lugar... Sou como uma grande montanha, um iceberg de pedra. Sair viajando pelo mundo é uma revolução cultural. Até agora, na hora de mudar a minha vida, mudei minha vida pra perto da família. Pra perto da matilha, por assim dizer. É um tal de gente grudada... Povo satélite. Meus avós tiveram 8 filhos, todos os filhos têm filhos, alguns filhos têm netos. Todo mundo passa Natal junto, se fala sempre e quando pode arruma motivo pra reunir. Minha família é um núcleo muito poderoso... E eu nasci com esse ímã, essa vontade de ficar junto. Vamos ver se esse cigano tem o poder de quebrar um pouquinho meu tradicionalismo.
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Hoje vou ilustrar não com uma, mas com duas músicas. Que os músicos do shopping sempre tocam e que eu fico aqui sonhando acordada, pensando no meu amor querido... Vamos de "All Star" e "Só Hoje".
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"Estranho seria se eu não me apaixonasse por você
O sal viria doce para os novos lábios
Colombo procurou as índias mas a terra avistou em você
O som que eu ouço são as gírias do seu vocabulário
Estranho é gostar tanto do seu all star azul
Estranho é pensar que o bairro das laranjeiras
Satisfeito sorri quando chego ali e entro no elevador
Aperto o 12 que é o seu andar não vejo a hora de te encontrar
E continuar aquela conversa
Que não terminamos ontem ficou pra hoje
Estranho mas já me sinto como um velho amigo seu
Seu all star azul combina com o meu preto de cano alto
Se o homem já pisou na lua, como eu ainda não tenho seu endereço
O tom que eu canto as minhas músicas para a tua voz parece exato
Estranho é gostar tanto do seu all star azul...
Não vejo a hora de te encontrar
E continuar aquela conversa
Que não terminamos ontem, ficou pra hoje"
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"Hoje eu preciso te encontrar de qualquer jeito
Nem que seja só pra te levar pra casa
Depois de um dia normal...
Olhar teus olhos de promessas fáceis
E te beijar a boca de um jeito que te faça rir(que te faça rir)
Hoje eu preciso te abraçar...
Sentir teu cheiro de roupa limpa...
Pra esquecer os meus anseios e dormir em paz!
Hoje eu preciso ouvir qualquer palavra tua!
Qualquer frase exagerada que me faça sentir alegria...
Em estar vivo.
Hoje eu preciso tomar um café, ouvindo você suspirar...
Me dizendo que eu sou o causador da tua insônia...
Que eu faço tudo errado sempre, sempre...
Hoje preciso de você
Com qualquer humor, com qualquer sorriso
Hoje só tua presença
Vai me deixar feliz
Só hoje"
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Eu amo o Romain.
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Um comentário:
Gabi ... nem sei que te dizer amiga ... vc me emocionou agora ... c é tao parecida comigo que assusta !!
eu tambem sou assim muito ligada na familia , nos meus pais no meu irmao ... e as vezes pra sair da rotina me custa tanto ...mas depois vem como que um vulcão acordando dentro de mim e que me empurra pra frente pro desconhecido e eu saio na aventura e só assim venço meus medos .
eu pelo menos nao tive que mudar de País , ele que veio pro meu ... e isso muda muita coisa . quero q vc saiba q tem deste lado do oceano uma amiga pro que der e vier ... e se precisar aqui estou de braços abertos . um beijo e tenha fé que tudo vai dar certo ...
vc tem que viver tambem ... se aventurar pra quando for mais velha não ficar com aqueles " e se eu tivesse feito assim e se isso e se aquilo "
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