quinta-feira, 9 de abril de 2009

sapomorfose, parte II, organizando os pensamentos



Domingo, dia seguinte. Fiquei menstruada, que bom. Pelo menos a TPM foi embora. Conversei com Deus, papo A-B. Se eu não fui embora antes, agora vou pensar sobre isso. Pensar sobre dar ou não um chance a ele. Domingo foi um dia bacana. Fomos à praia, depois fomos ao cinema. Acho que na segunda fomos ao museu, não lembro se foi no mesmo dia que fizemos a duas coisas, tá meio trepado na mente. Acho que à tarde fomos ao museu e à noite no cinema. Sei que são os 2 passeios que mais gosto na vida. Vimos filme em casa, só nós dois, quietinhos no quarto... Estava mesmo precisando de ficar um pouco recolhida. Não sou de esbórnia toda noite, isso também me estressa.
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Pensei muito, pensei muito... Comecei a colocar a cabeça no lugar. Com quem eu estou brigando? Será que mais uma vez estou deixando que a ação do homem que está comigo não passe de um espelho, uma reação? Eu estava brigando com o Romain ou com o Emerson? Muito recente, muito recente... Saí de casa em julho, pouco tempo. Ainda sinto falta dele, ainda sinto que ele entrará pela porta pra me levar pra casa. Tudo muito estranho. O fato de os dois serem parecidos demais piorou a confusão mental. Eu ainda na vibe das brigas finais, brigando com Romain como se quem estivesse me falando fosse Emerson. Ai!!!!! Com quem eu estava brigando? Com Emerson, com Romain ou comigo mesma? Esse foi o ponto de partida para o início de uma reflexão sobre os prós e contras dessa relação. Se eu não fui embora naquela hora, tinha que pensar bem, me dei mais uma chance.
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Deixei rolar domingo. Não lembro se na segunda ou na terça, viemos para Rio das Ostras. Pedi que ele dirigisse. Coisa boa é ter homem dirigindo, isso me derrete. Eu tranquila, olhando a paisagem, ele dirige tão bem, tão tranquilo... Boto a cabeça no colo dele pra dormir... Que carinho, que carinho. Aos poucos começava mais uma Sapomorfose, o sapo virando rei novamente.
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A distância da matilha acalmou os hormônios dele. Chegou na minha casa. Minha casa é aquilo que se sabe, quem sabe. Um apartamento bem pequeno, bagunçado, com mais ateliê de costura do que casa. Minha cozinha é pequena, quente e ridícula, dormimos eu, mamy e sara no mesmo quarto, temos 2 camas de casal. Não quis ir com ele a um hotel, quis que ele vivesse a vida que eu vivo, comesse minhas comidas, dormisse na minha cama. Minha mãe foi boazinha e fez carne todos os dias para ele, que boazinha. Eu falava o tempo inteiro, "na minha tribo é assim". Vi tv, saí com a Pomy todos os dias, comi banana em todas as refeições, sentei no chão. Viu como as coisas andam mal pro meu negócio, como a cidade está vazia e os comerciantes estão em dificuldade. Viu a minha vida, suja e pobre como ela é. Não moro em uma Disneylândia na Prudente de Moraes, com sushis e vinhos franceses. Moro numa cidade pobre, com gente pobre, moro numa casa humilde e vivo com dificuldades. Minha praia não tem onda de surfista. Mas é um lugar bacana com gente que eu amo e que me ama, uma família querida e amorosa, dignidade. Acho que ele passou a me respeitar mais. Passou a me ver de perto.
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Esquisito passar uma mão na barba da fotografia e a outra na barba de verdade. É como se não fosse a mesma pessoa. Eu amei tanto aquela barba na fotografia, acreditei tanto que um dia estaríamos juntos... ou não... Eu sonhei com ele comigo todo esse tempo. Não era possível que ele desfizesse todos os meus sonhos. Eu não ia deixar. Ele tinha que me olhar de perto e eu olhá-lo de perto. Não é possível que não servissemos um ao outro.
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Cada dia em que ele ficou aqui foi maravilhoso, cada dia. Uma sensação de amor... Uma sensação de que as coisas melhorariam. Teve um dia que estávamos na loja e começamos a discutir novamente questões de moda, coisas que eu gostava e ele não. Ele me chamou de "noiva". Disse que as pessoas podiam ser como quisessem, mas não sua "noiva". Como se eu fosse especial. Eu sou? Não respondi, fiz silêncio. Ele me chamou de noiva, isso soou bem aos meus ouvidos.
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Voltei a querê-lo bem. Voltei a tentar esquecer aquela pessoa que desceu no Terminal 1 do Galeão só pra me fazer sofrer.
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Voltamos para o Rio no sábado, eu acho. Sei que está tudo muito recente, mas está embolado na minha cabeça. Sou péssima em cronologia, mal sei o que almocei ontem. Talvez um dia eu perca a memória, talvez. Talvez por isso eu escreva compulsivamente desde os 12 anos, para tentar entender quem eu sou, porque virei esse emaranhado. Tem dia que estou tão confusa que só quero comer. Quero ficar gorda, bem gorda, pra ver se o mundo me enxerga menos. Se a capa de gordura me protege. Tenho vontade de comer o planeta Terra. Tenho que voltar pra ginástica, me ajuda a controlar a boca e aliviar as tensões, mas não tenho dinheiro agora.
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Então, voltamos pro Rio no sábado, eu acho. A viagem foi tranquila, a partir daí só ele dirige. Não gosto de dirigir, melhor ser dirigida.
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Ele foi meio que voltando a ser aquele misturado com a matilha. Caramba, como as coisas se misturam na minha cabeça. Não sei quando as coisas aconteceram no sábado ou no domingo. Eu acho que nós chegamos e fomos almoçar no Delírio Tropical, eu e ele. Estava bom, bem gostoso. Depois eu quis tomar um café e sentamos no Espelunca Chic. Como já era de se esperar em algum momento, encontramos um ex meu. Um cara com quem saí umas 3 vezes tempos atrás. Apresentei os 2 e disse a ele quem era o sujeito. Ele ficou ruborizado e me encheu de perguntas. Por que eu vou abrir a minha boca? Ficou com ciúmes mas fingiu que nada aconteceu. Ficou esperando o garçom devolver um troco de centavos. Chamei ele de mão-de-vaca, perguntei se ele era judeu. Cara, dinheiro é pra isso, a gente ganha pra gastar, pra usar pra passear coma sua garota, deixa pra lá. Depois voltamos pra casa e eu achei que íamos no show do Jorge Ben Jor. Me vesti, ele mandou trocar a roupa toda, disse que na França roupa de onça é muito vulgar. Escolheu um vestido pra eu botar. Pediu para que eu o deixasse ver todas as minhas roupas e escolher o que eu posso usar ou não, e quais as combinações que eu posso fazer (coisa de viado). Resolvi responder. Tô cansada de só ouvir sem falar nada. Disse que já que ele tinha resolvido mudar meu jeito de vestir, que eu também ia mudar o dele. Me mostra uma camisa de homem que veio dentro dessa mala? Só anda de camiseta e chinelo. Camiseta é roupa de adolescente! Você não tem mais 18 anos, você tem 30. Tem que vestir camisa de tecido, camisa com botão, feito homem adulto. Walter e seu irmão têm camisas bonitas, se vestem melhor do que você. E chinelo? Aqui no Brasil chinelo é coisa de ficar em casa, ir à praia e no supermercado, isso não é sapato. Se você acha que tem o direito de me mudar, quero te ver usando sapatos. Xeque.
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Eu tenho ficado toda roxa do jeito que ele me agarra. Dia desses ele disse que queria me bater. Eu falei: bate. Bate. Bate mesmo. Mas bate no quarto, que eu não quero te bater na frente de todo mundo. Bate que eu vou te espancar, vou quebrar cada ossinho do seu corpo, vou te bater por todos os homens que eu sempre quis bater na vida. Bate, que eu sou mais forte que você e te quebro! Ele desistiu.
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Daí eu pensei que a gente ia no show do Jorge Ben Jor. Saímos pra comprar bebida e cigarros, normal. Passei no banco pra tirar dinheiro. Fiquei naquele suspenso, esperando o que ia acontecer. De repente saíram os 3, e eu atrás meio perdida. Eles carregando sacolas de supermercado, com bebidas dentro. Ué, vocês vão levar bebida quente pra Lapa? Não, a gente tá indo pra uma festa no Vidigal. Hein? Nem bolsa eu levei, tinha pedido pra ele botar as coisas no bolso dele, porque pensei que iríamos dançar. Entrei no táxi, novamente com cara de perdida. Fomos a uma festa na Niemayer, um frente ao Sheraton, no Vidigal. Casa de um casal de franceses. Casa bacana, 3 gatas lindas, casa bacana mesmo. Aquela galera que estava na outra festa, menos uns e mais outros. Divertido. Agora eu já os conhecia e eles já me tratavam melhor. A maioria dos franceses fala português e eu já ando entendendo bem o que os franceses falam em francês. O francês é bem parecido com o português quando se presta atenção, e o que não parece português parece inglês e o que sobra não é tanto assim. Não é tão difícil entender. Música boa rolando, começaram a jogar pôquer. Não sei como joga, podem me ensinar? Uma menina muito legal formou dupla comigo, foi maneiríssimo. Na hora de ir embora, eles queriam, ir e eu não, estava me divertindo. Isso umas 3:30 da manhã. Por fim, ele me elogiou, disse que eu estava muito elegante. Parece que eu passei no teste, consegui me enturmar com os franceses, nem olhei pra ele a festa toda. Que engraçada a cara dele de orgulhoso de mim. Nada a ver.
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Comecei a escrever e perdi o fio da meada. Acho que é mais fácil escrever sobre história inventada que história de verdade. Difícil manter a cronologia tendo um monte de coisa na cabeça, se não escrever eu perco mesmo.
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Ah, lembrei. Domingo fomos almoçar na casa do meu pai, era aniversário dele na segunda. A casa do meu pai fica em uma área pobre da cidade, uma comunidade, na entrada de uma favela. Ele queria ir pra conversar com meu pai e ver mais perto como é a realidade de um brasileiro comum. Foi bom, foi bom... Conversamos, papai tocou violão, passamos um almoço agradável. Estava um dia lindo, ensolarado, resolvemos ir a Niterói. Acho que ele não entendeu muito bem, Niterói é looonge. Nunca que chegava e nunca que ele parava de reclamar. Pára de reclamar, você está de férias, tá com pressa de quê? Mas ele gosta, gosta de reclamar. E eu reclamando que ele gosta de reclamar. Mas foi bom. Fomos a Camboinhas, vimos um pôr-do-sol lindíssimo, tiramos fotos do MAC, ouvimos música no carro. Chegamos cedo em casa, arrumei minhas coisas para ir embora de manhã.
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Bom pegar o ônibus sozinha, bom pensar que passaria a semana sem ele. Saudade da minha loja, dos meu amigos de Rio das Ostras. Saudade de dormir sozinha um pouco. Precisando urgentemente de um tempo pra pensar.
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A música desse post é uma pergunta. Perguntas, perguntas... Cássia Eller, "Quremos Saber".
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"Queremos saber
O que vão fazer
Com as novas invenções
Queremos notícia mais séria
Sobre a descoberta da antimatéria
e suas implicações
Na emancipação do homem
Das grandes populações
Homens pobres das cidades
Das estepes dos sertões
Queremos saber
Quando vamos ter
Raio laser mais barato
Queremos, de fato, um relato
Retrato mais sério do mistério da luz
Luz do disco voador
Pra iluminação do homem
Tão carente, sofredor
Tão perdido na distância
Da morada do senhor
Queremos saber
Queremos viver
Confiantes no futuro
Por isso se faz necessário prever
Qual o itinerário da ilusão
A ilusão do poder
Pois se foi permitido ao homem
Tantas coisas conhecer
É melhor que todos saibam
O que pode acontecer
Queremos saber, queremos saber..."
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Também estou perguntando, também quero saber.

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